Precisamos de políticas públicas capazes de formar cidadãos
Por Major Elisete Lima –
Um dos instrutores do PROERD/PMPI relatou que, certa vez, ao chegar em sala de aula, um de seus alunos estava com um ferimento na perna, vitimado por uma projétil (uma bala).
Ele disse que nem ousou perguntar como o menino de 13 anos fora ferido, porque já é de se imaginar a resposta.
Os colaboradores do programa se deparam a cada dia mais com menores infratores em sala de aula, muitos dos quais usuários ou dependentes de drogas. E nós, policiais, até temos formação para lidar com esse problema, embora a capacitação seja incipiente diante da complexidade do tema; mas fico mesmo preocupada é com nossos professores… com a sua vulnerabilidade diante disso tudo.
Outro dia uma professora me ligou, desesperada (pedindo socorro mesmo!), porque seus alunos estavam usando droga dentro da sala de aula, sem o menor constrangimento. Ela chorou ao telefone, dizendo que não sabia mais o que fazer, ou a quem recorrer, e que talvez tudo isso fosse mesmo assunto de polícia.
Um outro professor, preocupado com tanta violência em sua escola, pediu-me que levasse nosso programa, como uma estratégia de segurança, porque, no mínimo, um policial militar estaria presente e mais próximo da comunidade escolar.
E toda semana somos conclamados por municipios do interior do estado para implementar o programa em suas escolas, uma vez que, segundo eles, a droga está “tomando de conta” até das zonas rurais!
E esses são só alguns casos em que tenho me deparado nos últimos anos à frente da Coordenação Estatual do PROERD. O clamor da população por políticas públicas sobre drogas tem aumentado a cada ano, e não é difícil deduzir o porquê: o problema da dependência química está intrinsecamente ligado à saúde, a educação e a segurança de nosso povo.
Sobre saúde e educação, nao sou especialista; mas sobre segurança e drogas, tenho pós-graduação em ambas, e posso opinar com propriedade: a droga está, direta ou indiretamente ligada à quase totalidade dos crimes de nosso estado. Segundo dados dos Tribunais de Justiça brasileiros, um em cada três presos no país responde hoje por tráfico de drogas. E não temos pesquisas na área, mas nós policiais militares sabemos que a maioria esmagadora dos furtos e roubos acontecem para obtenção de recursos que serão usados na compra de substâncias psicoativas.
E o que falar dos prejuízos sociais lícitas, como cigarro? O tabagismo está relacionado a mais de 50 doenças sendo responsável por 30% das mortes por câncer de boca, 90% das mortes por câncer de pulmão, 25% das mortes por doença do coração, 85% das mortes por bronquite e enfisema, 25% das mortes por derrame cerebral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), todo ano mais de cinco milhões de pessoas morrem no mundo por causa do cigarro. E, em 20 anos, esse número chegará a 10 milhões se o consumo de produtos como cigarros, charutos e cachimbos continuar aumentando.
E quantas e quantas famílias sao destruídas pelo uso abusivo do álcool? E quantas brigas e até mortes, que culminam em ocorrências policiais sao causadas por conta das bebidas alcoólicas consumidas em demasia?! E segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 1,25 milhão de pessoas ainda morrem todos os anos no mundo em decorrência de acidentes de trânsito causados pela dupla álcool e direção.
Mas o que mais me preocupa é que o tema das drogas não é considerado prioridade nas políticas públicas, principalmente o pilar da prevenção; parece que as pessoas não compreenderam, ainda, que a repressão, sozinha, nunca irá ser eficiente e eficaz para solucionar o problema.
Enquanto estivermos só prendendo, a máxima do enxugar gelo irá prevalecer, e nossos professores ficarão cada vez à mercê de delinquentes juvenis cada vez mais inconsequentes e perigosos. O que precisamos, mesmo, é uma política pública de prevenção capaz de formar cidadãos em sua plenitude, desde a mais tenra idade até a fase adulta.
Precisamos PREVENIR PARA NÃO PUNIR!
* Major Elisete Lima é colunista, escreve semanalmente no Portal Fort Notícias.