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Coluna Raimundo Ney – Farinha pouca, meu pirão primeiro.

 * Raimundo Ney

A antropóloga Gilda de Castro afirmou que “os brasileiros usam essa expressão porque o individualismo é importante vértice do sistema simbólico-ideológico que norteia nosso comportamento, pois predominam aqui os interesses individuais sobre os da comunidade. Ou seja, nossa conduta escancara egoísmo exacerbado que implica pouco apreço às instituições e ao bem-estar coletivo. Daí um esforço diuturno de cada um que aspira sucesso político-econômico e procura livrar-se de responsabilidades por danos a outrem a qualquer preço material e moral”.

Os escândalos de propinas exigidas por políticos indicam, portanto, apenas uma faceta dessa postura em que cada um apropria-se de bens ou território, independentemente dos prejuízos a terceiros. Os terceiros aqui somos nós!! Em outras palavras, quando um motorista infringe normas de trânsito, provoca uma tragédia e é surpreendido pelo Estado repressor, é melhor cometer mais outro crime do que admitir sua responsabilidade no ato prejudicial ao outro. Isso é corriqueiro em muitas situações menos delicadas e decorre simplesmente pela existência do “mercado”. Ou seja, agentes públicos impõem propina porque sabem que existem cidadãos afeitos a essa prática. Infelizmente, o problema vem à tona apenas quando há registro visual ou sonoro da “negociação”, novela que assistimos diuturnamente em todos os meios de comunicação e que já não nos causa perplexidade, já virou parte de nossa rotina.

O problema é maior porque tudo fica nos desvãos da consciência de cidadãos que não se sentem prejudicados e aceitam outros desmandos enquanto seus interesses não são afetados. Aliás, muitos críticos de agentes públicos tentam também beneficiar-se de uma forma ou outra desse Estado que privilegia o personalismo, as relações clientelistas, o planejamento obscuro de obras e a maquiagem na infraestrutura. Refestelados no sofá da sala, eles mostram indignação pelos corriqueiros escândalos apresentados no noticiário, mas jamais vão à luta para melhorar o país que começaria da sua própria rua.

É culturalmente aceitável que a propina representa, então, a solução para “o meu problema”, independentemente da agressão às instituições.

Outras atitudes igualmente nocivas ao bem-estar da coletividade continuam prevalecendo em nosso cotidiano, apesar das advertências na mídia quanto aos riscos para os habitantes das áreas urbanas e mesmo ao futuro do planeta. Incluem aqui o desperdício de água, a irresponsabilidade pelo lixo, ao consumo desnecessário de energia e a postura egoísta no trânsito. Vejam que não se trata só de desvio de dinheiro. O problema é mais abrangente.  O que importa é sobrepor o próprio conforto e a beleza da residência sem aquilatar os desdobramentos de seus atos.

O Brasil não será um país melhor se essa postura prevalecer e não existe luz no fim do túnel, pois a mudança depende de alterações radicais nos ideais e, especialmente, nas convicções sobre certo/errado, justo/injusto, verdadeiro/falso, admitindo um sistema de prêmios e castigos menos elástico em qualquer situação.

Enquanto isso, estaremos ao alcance de autoridades corruptas, pois a flexibilidade cotidiana na avaliação da nossa conduta sugere que todos nós, com pouquíssimas exceções, pagaremos propina em situação constrangedora.

Assim, precisamos respaldar a nossa conduta politica na ética cristã, pois a política é, por essência, ética, já que se refere à liberdade e, essencialmente, à justiça. Aliás, finalizando esse modesto pensamento, recorro a Santo Agostinho, que muito oportunamente declarou: “Removida a justiça, o que são os reinos senão um bando de ladrões?

E finalizo, onde está nossa justiça?

* Raimundo Ney de S. Nogueira Paranaguá é de Corrente-PI, advogado militante, formado em Ciências Jurídicas pelo UNICEUB/DF, pós-graduado em Direito e Jurisdição pela escola Superior da Magistratura do Distrito Federal – AMAGIS-DF.

Um comentário sobre “Coluna Raimundo Ney – Farinha pouca, meu pirão primeiro.

  • Ótimo texto meu amigo!
    Reflexão oportuna para os dias de hoje!
    Jesus conosco!

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