CEL ELIZETE LIMAOPNIÃO

Coluna Major Elizete – Que polícia queremos?

* Major Elizete

Desde cadete, ouço especialistas e estudiosos da Segurança Pública opinarem e defenderem teses sobre o perfil ideal do policial, especialmente dos integrantes das polícias militares, tecendo críticas ferrenhas ao modus operandi das corporações no trato com o infrator. Muitos apontam o dedo para a conduta policial, taxando-a de preconceituosa, corrupta e violenta.

Mas, será que a sociedade quer mesmo uma polícia militar que atue no estrito cumprimento da lei?

Certo dia, uma guarnição composta por um sargento e dois soldados foi atender a uma ocorrência em um bairro nobre de Teresina. Tratava-se de uma mulher que sofrera agressões físicas de seu marido. Ao chegarem ao local e darem voz de prisão ao homem de meia-idade que agredira a esposa, agiram com a força necessária para conter o agressor, imobilizá-lo e alocar as algemas, tudo dentro da “normalidade do policiamento de rua” que estão acostumados a fazer.

Porém, o cidadão detido era um rico empresário, de quem ouviram a famigerada frase: “Vocês sabem com quem estão falando?! “ – o agressor, conhecido por seu patrimônio gigantesco, cuidou logo de se apresentar e de elencar a gama de “amigos” poderosos, ameaçando os policiais de transferência e outros tipos de represália, caso insistissem em levá-lo.

E a imprensa logo cuidou de acusar os policiais de abuso de autoridade; ouvi um apresentador de TV dizer que “não precisava tudo aquilo, toda aquela violência…!”. Sorte dos profissionais que havia no prédio câmeras de vídeo e, nas imagens, restou claro que em nenhum momento eles bateram ou machucaram o preso. Ao contrário, o moço detido é que desferia socos e pontapés em quem chegasse perto!

Mas, quando se trata de ocorrências envolvendo um pobre, as opiniões divergem.  Há poucas semanas, uma policial desferiu dois tapas no rosto de um conhecido assaltante da zona sudeste da capital, a quem ela já teria prendido diversas vezes. Um mês antes, em uma cidade do interior, dois policiais aplicaram tapas e socos em um homem que teria roubado duas motos, bem próximo ao quartel.  Em ambos os casos, as próprias vítimas filmaram a ação da PM e logo viralizou nas redes sociais.

E nesses casos, ouvi muitas pessoas defendendo a ação policial, dizendo que criminoso tem que ser tratado é assim mesmo… e que bandido bom é bandido morto!

Então, há que se perguntar: qual bandido a sociedade quer morto? Pelo que tenho visto, se se tratar de um “pé rapado” a polícia pode bater … e até matar, mas, se for rico, não pode sequer algemar?! Se o ladrão tiver subtraído uma moto ou um celular, pode a PM aplicar uns tapas, chutar, chamar de vagabundo…entretanto, se for um parente de um político, por exemplo, que dirija por aí sob o efeito de substancias psicoativas, portando drogas e até armas, o policial tem que tomar todos os cuidados para não ofender a integridade do infrator?!

Parece-me que o velho ditado “O pau que dá em Chico tem que dar em Francisco” não é muito bem-vindo para a classe dominante, não é mesmo?!

* Major Elizete Lima é Oficial da PM-PI, ex-Coordenadora Estadual do PROERD; Advogada; Pós-graduada em Direito Civil e Processo Civil, em Docência do Ensino Superior, Gestão de Segurança Pública,  em Atenção Integral a usuários e dependentes de Substâncias Psicoativas e Doutoranda em Direito.

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