Coluna Raimundo Ney – Eleitor covarde, político corrupto.
Por Raimundo Ney
Artigo escrito por Luiz Gonzaga da Rocha, pernambucano de Pesqueira, sobre o qual me debruço e, curiosamente, ainda me surpreendo o quanto somos capazes de estimular as pessoas a exigirem seus direitos, fazendo renascer a esperança outrora adormecida e quase esquecida.
“Leio no Jornal “Pesqueira Notícias nº 218” (Mar/2014) a proclamação de que “A Sociedade Precisa Exigir Prestação de Contas dos Políticos”, e me anima a tecer algumas considerações. Proclama o editorial:
‘Numa sociedade verdadeiramente civilizada é perfeitamente normal se pedir prestação de contas dos políticos. De todos os níveis. Infelizmente, no nosso país, esse tipo de conduta do cidadão ainda é fruta braba, não se avalia, não se monitora, não se pede prestação de contas aos políticos, principalmente aos detentores de mandatos eletivos. Fica-se apenas cochichando nas esquinas. Uma sociedade que se omite das suas funções de monitorar a classe política é uma sociedade omissa, covarde e morfina. E deve monitorar tanto a situação como a oposição. Isso faz parte dos seus direitos inerentes à cidadania.
Este jornal desde o seu primeiro número, com independência e sem se vincular a grupo político de qualquer tipo, vem cobrando dos políticos. Estamos, pois, fazendo a nossa parte, não nos omitimos, não nos acovardamos, não deixamos de exercer o nosso papel na sociedade. Lembramos à sociedade que ela precisa sair de cima do muro da omissão, que precisa exigir prestação de contas dos políticos, que precisa contribuir com a Democracia. Não basta lamentar baixinho, é preciso botar a boca no trombone. É preciso ser realmente uma sociedade de verdade. Urgente’.
Concluída a leitura, fiquei a meditar. A sociedade precisa, de fato, exigir prestação de contas aos políticos? Exigir sim. Nós cidadãos, temos o dever/direito de exigir prestação de contas e de fiscalizar políticos e instituições, sem preconceito ou denuncismo. Mas o que fazer com as contas? Então, surgem as dúvidas e dúvidas atrozes. E, então, me pergunto: os eleitores saberiam o que fazer com as contas? Fariam o quê? Como? E porquê? Teriam, por acaso, parâmetros para avaliar a prestação de contas por ventura apresentadas? As informações postadas nos Portais de Transparência das Contas Governamentais não atenderiam? São dúvidas, dúvidas e mais dúvidas.
Teríamos a essas dúvidas respostas adequadas? Consultando antigas anotações e velhos alfarrábios em busca de respostas, a única que me ocorre é dizer: SIM. Sem dúvidas, SIM. Afinal, não existem problemas insolúveis, e daqui a alguns dias, o Povo vai voltar às urnas, e terá a chance de proporcionar um raro exemplo de democracia e civilidade. A política tem solução. Nada é impossível de mudar, só depende de nós.
E estou me propondo, a partir de agora, apresentar uma ideia e sugestão extremamente simples: a implantação e consolidação de nova base de representação política assentada no que denomino de Democracia Direta e Plena, para que todos os poderes emanem do Povo e em seu nome seja exercido. Democracia direta e plena, onde o Povo não perca o seu voto depois do ato de votar, devolvendo o Poder Legislativo ao Povo, que é do Povo, para o Povo.
Afirmar que o eleitor não pede prestação de contas aos políticos não é novidade. Nenhuma novidade. O Povo nunca exigiu prestação de contas aos políticos, pelo menos no Brasil, não. A verdade é que o eleitor, depois de passadas as eleições, deixa de se interessar pela política, deixa de se interessar pelos políticos. Não olha os políticos com os mesmos olhos de antes e nem mesmo se preocupa com os rumos da política e da economia nacional, portanto, não teria olhos nem ouvidos para as contas públicas da Nação, Estados e Municípios. Em verdade, o eleitor, depois de cada eleição, sofre uma espécie de apagão político, socioeconômico, informativo e cultural.”
Ao ler a reflexão do inquieto Luiz Gonzaga, me deparo com os dias atuais, onde o dito pelo autor ocorre exatamente na nossa frente. Êta Luiz adivinhão!!
Pois bem, complementando o pensamento de Luiz, no campo da responsabilidade, o eleitor brasileiro não deixa de ser o grande responsável pelo quadro político que repudia e que taxa como corruptor e corrupto.
O eleitor se torna cúmplice dos políticos na violação dos seus próprios interesses, embora não se aproveite da corrupção praticada. O Eleitor, ao eleger pessoas sem os mínimos requisitos de ética e moral; sem examinar os seus antecedentes e sem atentar em prospectar as suas propostas e projetos pessoais e políticos futuros, permite que a degradação política se estabeleça ou permaneça presente e atuante.
Penso que para compor o quadro de parlamentares ou de qualquer outro cargo ou função pública, por mais irrelevante que seja, deveríamos escolher somente cidadãos altamente competentes e comprometidas com o bem comum. Pessoas dotadas de engenho e arte do mais alto gabarito, gestores especializados e competentes. Escolher pessoas sem a observância de tais atributos, penso que seja muito difícil ou quase impossível levarem a cabo a nobre missão que lhe é atribuída, seja como homem público; seja como gestor da coisa pública.
Cediço é que o povo, enquanto eleitor, torna-se cúmplice de todo o desatino político que condena, pois não faz e não aprende a fazer uso da consciência política no exercício do seu direito de votar, levando-se em consideração o alto índice de analfabetos que possuímos. Só para exemplificar, em Brasília, Capital da República, temos mais de 60.000 analfabetos.
De mais a mais, o eleitor não se preocupa com o voto e vota em qualquer um que lhe apareça à frente ou que lhe ofereça algum tipo de benefício. Parcela significativa do eleitorado acredita piamente em promessas vãs e heróis do oportunismo, e em muitíssimos casos, vota em candidatos que não conhece pessoalmente, ou que somente viu pela televisão. Basta o candidato aparecer na televisão com um belo discurso, aquele que vai de encontro exatamente como solução para seus problemas e pronto, esse é o candidato certo, homem bom, candidato honesto e trabalhador, ou seja, uma boa parcela do eleitorado vota pela televisão.
O eleitor é, em primeira e última instância, o ser responsável direto pelo DNA dos políticos eleitos, pois vota por votar, vota sem consciência do valor e do poder do voto. Essa é uma das razões pela qual não temos bons políticos, estadistas, políticos que conduzam a política com seriedade e levem a sério a função que exerce.
A conclusão pessoal a que chego, é no sentido de considerar como absolutamente correta a visão de Luiz e do Jornal que o inspirou a escrever o artigo, e em concordar com a afirmação de que é perfeitamente normal pedir prestação de contas aos políticos. Não discordo de ambos, e reafirmo que os políticos têm obrigação de prestar contas ao Povo do mandato que lhes fora confiado.
Por que a necessidade de fiscalizar? – O nosso Povo, infeliz e desgraçadamente, não tem por hábito fiscalizar o trabalho que realizam seus representantes, isso é cultural. O Poder Público ficou arcaico e se tornou um ambiente propício para a prática de toda sorte de desvios. O Congresso, o Senado, a Câmara Federal, as Câmaras Estaduais e Municipais não têm mais ambiente moral e ético para promoverem a apuração das irregularidades de seus membros. Ademais, os parlamentares não podem e não devem ser os agentes fiscalizadores dos seus próprios atos legislativos. Assim, me parece e quero crer que as instituições políticas estão a mercê do desmando, e o povo, único penalizado, precisa fiscalizar para não ter que arcar sozinho com as consequências disso.
O eleito parlamentar, ao tomar posse no mandato, deixa de enxergar a realidade do seu círculo e cotidiano vivencial, e passa a imprimir ao significado político um caráter diferente de tudo aquilo que o eleitor reclama –parece que perde a visão política da sociedade e da realidade – embora seja da sua responsabilidade e da sua função, procurar entender a realidade e, entendendo-a, alterá-la para o bem de todos.
Por outro lado, ou são frouxas ou não existem regras estabelecidas para manter a ordem e a moralidade (a Lei Anticorrupção – Lei nº 12.845/2013, vigente desde 29/01/2014 – ainda não foi regulamentada pelo Congresso), a gastança desordenada com o dinheiro público é nas três esferas dos Poderes da República, os Tribunais de Contas estão abarrotados de processos e o ato de fiscalizar se mostra ineficaz.
A minha grande satisfação é saber que nem todos os políticos são corruptos e omissos com a pátria, e que nem todo eleitor é omisso e relapso. Mas precisamos velar pela moralidade, pela ética, pela transparência nas contas públicas e governamentais, e, particularmente, fiscalizar os políticos, essa é a chave, fiscalizar os políticos.
A minha grande satisfação é saber que, em pelo menos 30 cidades brasileiras a cada ano fica mais difícil roubar dinheiro público. É que os moradores desses municípios se uniram e formaram um verdadeiro exército de caça-corruptos. Os alvos: prefeitos, vereadores e servidores públicos que tiram proveito do cargo em benefício próprio. As armas: leis, mobilização e transparência. Todos nós cidadãos temos o direito de saber onde e como está sendo gasto o resultado de nossos impostos.
É um desafio para a sociedade acompanhar o trabalho dos políticos, mas temos que ter a consciência de que, antes de ser uma obrigação, é também um dever nosso exigir clareza nas ações de nossos representantes.
* Raimundo Ney de S. Nogueira Paranaguá é de Corrente-PI, advogado militante, formado em Ciências Jurídicas pelo UNICEUB/DF, pós-graduado em Direito e Jurisdição pela escola Superior da Magistratura do Distrito Federal – AMAGIS-DF.