Coluna Hélvia Paranaguá – Basta de Patrimonialismo
* Hélvia Paranaguá
Pablo Neruda escreveu: “Somos livres para tomar as decisões, mas seremos escravos de suas consequências”.
A vida nos obriga a decidir e temos que fazer isto em todos os momentos do nosso cotidiano…
Algumas destas decisões definem consequências imediatas e palpáveis como a escolha da profissão, do cônjuge ou do lugar para morar…
Já outras não…dependem de questões de cunho social/filosófico que levem à reflexão de como ser útil à minha gente…como político, profissional liberal, na área eclesiástica ou simplesmente sendo um cidadão honesto cumpridor dos meus deveres?
Escrevi num outro texto, que o Piauí já nasceu grande, nós é que o apequenamos…
Me recordo que em início dos anos 80, quando aluna de graduação na Universidade de Brasília, numa aula de Sociologia, o professor explanou que dos estados nordestinos, Piauí, Maranhão e Ceará eram os mais patrimonialistas e em seguida escreveu no quadro negro o significado de Patrimonialismo, definido por Max Weber, no fim do século XIX:
“Tipo de organização política em que as relações subordinativas são determinadas por dependência econômica e por sentimentos tradicionais de lealdade e respeito dos governados pelos seus governantes”…
Nem ousei contra-argumentar o professor porque sabia que era uma verdade irrefutável…
Ato continuo ele falou que devíamos este comportamento ao Bandeirante Domingos Jorge Velho, que entre os anos de 1661 e 1664, lutou ao lado de Domingos Afonso Sertão contra os indígenas das regiões do Piauí, Maranhão e Ceará, espalhando a hegemonia do homem branco e fortalecendo o pensamento patrimonialista na população dos três estados…
Me aprofundando na leitura, vi que..o Estado encarado como patrimônio, segundo Weber e outros autores da mesma linha, “é um obstáculo à eficiência da máquina pública, já que a racionalidade impessoal (sem interferência de assuntos privados) que qualifica o Estado nos moldes do liberalismo do século XIX não pode ser exercida. No Estado em que não há impessoalidade, os interesses públicos são sempre prejudicados em favor dos interesses privados. Nesse sentido, é comum que, somado à falta de impessoalidade, esteja o personalismo político.
O que isso significa? O personalismo político é uma espécie de rede de relações público-privadas nas quais prevalecem os “arranjos” pessoais, como o “apadrinhamento” e o “conchavo”para se conseguir aprovações de leis em casas legislativas ou, no âmbito econômico, a aprovação de licitações públicas para determinadas empresas etc”.
Já se passaram 343 anos, desde Domingos Jorge Velho e ainda temos esse comportamento tão arraigado nas nossas veias…
Meu desejo?
Que os ventos de mudança que invadem o Brasil de norte a sul tragam a tão desejada metanóia (mudança de mentalidade) ao povo do nosso Piauí e assim possamos escolher melhor nossos representantes, com o olhar voltado para questões que beneficiem a todos, como os pilares constitucionais (educação, saúde, segurança e infraestrutura de base) e não com o olhar focado no próprio umbigo…
Que possamos valorizar os representantes da nossa região pois são eles que melhor conhecem nossa realidade e agruras…e caso não atendem às nossas expectativas, que os troquemos na eleição seguinte…isto se chama maturidade política…
Um dia a gente acerta e acaba com este nefasto patrimonialismo.
* Hélvia Paranaguá é natural de Corrente – Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Graduada em Letras/Inglês pela Universidade de Brasília- UnB, Pós-graduada em Ensino da Língua Estrangeira Moderna – LEM pela USP de Curitiba, Pós-graduada em Administração do Turismo em Núcleos Receptores pela Escola de Comunicação e Arte – ECA da USP, Pós-graduada em Administração Pública- CIPAD pela Fundação Getúlio Vargas – FGV, Mestranda em Educação Pública pela Universidade de Brasília, Exerceu cargo de Secretária na Secretaria Extraordinária de Educação Integral do DF.
São os Currais eleitorais!
Parabéns Dra Hélvia!
Seu artigo nos conta a história desde sua origem. Através do mesmo podemos fazer uma leitura de nossa cumplicidade para nossa triste realidade, onde os “pilares conatitucionais” por ti citados, não vão além de mera escrita que dormita sem nenhuma eficácia prática no bojo de nossa Carta Politica. Excelente!!!
Que cheguem os ares da mudança!
Sejamos atores sociais nesse processo!
As mudanças estavam em andamento, porém foram quebradas…se observamos o contexto histórico, sócio, político e econômico em cada cidade do Piauí observamos esse patrimonialismo ao longo do tempo.Ex: mocambo.E pra quebrar isso se resume em uma palavra:educação…