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Coluna Israel Guerra – Seca: Uma tragédia ignorada em nossa região

* Israel Guerra

”Mandacaru quando flurora na seca é o sinal que a chuva chega no sertão”

O fenômeno da seca se repete a décadas em nossa região do Extremo Sul do Piaui. As discussões por medidas que venham solucionar o problema arrastam-se por muitos e muitos anos. É mais que evidente que o problema é de ordem política.

A vida do nordestino descrita por Rachel de Queiroz, no seu romance O Quinze, e por Graciliano Ramos, em Vidas Secas, revelando as agruras do Sertão e do seu povo forte e sofrido, vai se eternizando a cada dia.

É bem verdade que ganha toques de modernidade. Aqui em nossos municípios, o jumento foi substituído pela moto, os retirantes em comitivas e de paus de arara não existem mais. No entanto, as práticas oligárquicas permanecem as mesmas.

Todos os dias acompanhamos pela mídia que a tragédia da seca encobre interesses escusos daqueles que têm influência política ou são economicamente poderosos, que procuram eternizar o problema e impedir que ações eficazes sejam adotadas. O clamor dos flagelados é usado para captar recursos do Estado em benefício próprio, com o pretexto de combater as mazelas do fenômeno climático.

Como se a estiagem fosse algo imprevisível e novo, ensaiam o enredo da tragédia tendo como pano de fundo os tons marrons da terra seca, da poeira, dos rios, brejos e açudes secos, da mata seca e os olhos tristes e famintos de milhares de homens e animais que passam fome e sede.

Os prefeitos decretam logo Estado de Emergência. Em seguida, o governador convoca secretários, deputados e senadores. Todos enfileirados, em uma só voz, marcham rumo a Brasília. O Governo Federal, lança de forma emergencial um pacote de medidas paliativas de “combate à seca” que chega a ser algo grotesco diante da vasta produção científica acerca de como se conviver com o semiárido.

Nem precisamos ir longe. Bem ali, na UESPI de Corrente, na UFPI em Bom Jesus ou mesmo no NUPERADE em Gilbués, pesquisas cientificas sobre esta temática sobram nas prateleiras.

Um fenômeno climático não é para ser combatido. Alguém imaginaria combater o gelo no polo Norte? Deve-se, sim, criar melhores condições de convivência com ele. Ao contrário do que se pensa e se divulga, existe água suficiente em nossa região. Só que, pelo modelo econômico do latifúndio e do capitalismo, a água também é pessimamente distribuída.

Concentração de renda, concentração de terras, concentração do controle das águas, eis os pressupostos da tragédia que se renova a cada ano. É importante atentarmos que, além da falta de vontade política, torna-se necessário também a permanente mobilização da sociedade.

Enquanto o povo desta região (o mesmo da BR-135), aceitar, passivamente, a perpetuação de práticas assistencialistas e do clientelismo que assume novas formas, mas mantém sua essência no trato da estiagem, o quadro miserável se repetirá a cada ano.

Enquanto a solidariedade pontual e as medidas emergenciais continuarem a prevalecer, nada vai mudar de verdade.
Até agora o mandacaru ainda não florou. Acorda, gente!

* Israel Boaz Lemos Guerra (Badé) é jornalista, editor do portal Fort Notícias.



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