Coluna Israel Guerra – Quando se fecha escolas, falta dinheiro para presídios.
Por Israel Guerra –
O grande cidadão brasileiro, antropólogo Darcy Ribeiro, há muitos anos, fez o alerta com a célebre frase: “Se os governantes não construírem escolas, em poucos anos faltará dinheiro para construir presídios”.
Mesmo com esse alerta, os governantes de nosso país ainda fazem de conta que não conhecem a famosa citação, seguem na linha de desvalorizar o essencial, como a educação e fazem a população pagar pelos resultados.
Em nossa região do Extremo Sul do Piauí, por exemplo, muitos prédios escolares estão em ruínas. Centenas de salas de aula vazias, escolas inteiras foram fechadas numa velocidade tal que a construção de presídios não vem dando conta. Os números estão aí para quem quiser confrontá-los. As estatísticas da educação no Brasil é o retrato deste descaso.
Os símbolos desta política equivocada estão por todas as cidades do Extremo Sul piauiense. Prédios construídos com recursos públicos, alguns deles quase centenários, estão em completo estado de abandono.
Na cidade de Corrente há fato irônico: no prédio onde funcionou a cadeia pública da cidade, hoje é sede da Universidade Aberta. O outro, que também sediou a cadeia foi reformado para abrigar o SAMU. Onde um dia serviram para punir com mão de ferro, servem hoje para cuidar de gente, com mãos dóceis.
Este grande legado deixado por vários cidadãos que administraram nossas cidades não pode ficar entregue ao abandono, sem a devida preservação. Sem dúvida, cada uma dessas ruínas é parte da história de vida de muitos estudantes, hoje, profissionais que por lá passaram. Cada um de nós carregamos na memória boas lembranças da escola onde estudamos. Marcam a nossa vida.
São prédios que podem ser aproveitados para outros fins. Tanto os da zona urbana, como os da zona rural. As ruínas destas escolas significam uma tragédia sem precedentes.
O desinteresse do poder público, principalmente das prefeituras, no uso destas construções não justifica a indiferença frente ao estado de abandono, ao vandalismo e à deterioração por falta de limpeza, manutenção e segurança.
É dinheiro, patrimônio e história abandonados por quem deveria preservar. Hoje, a escola esvaziada de mentes sedentas de saber, é ocupada por pessoas que, a continuar a inércia estatal, certamente ocuparão algumas das prisões já construídas na região do Vale do Gurguéia, sem contar as que ainda virão.
Nosso antropólogo, apenas reforça o pensador francês Victor Hugo que imortalizou a frase “derrubem as cadeias e levantem as escolas” dita há mais de 150 anos.
* Israel Boaz Lemos Guerra é jornalista, colunista do Fort Notícias.
A reflexão desafia os homens e mulheres de bem a enfrentar o produto da soma disso: a criminalidade. Quem não estuda ou não é estimulado a faze-lo, fica mais propício a se engendrar pela vida do crime. Construir ou preservar escolas e mantê -las funcionando, é abrir portas para a liberdade, é proporcionar a cidadania plena, pois só o conhecimento é capaz de possibilitar isso. Como dito no artigo, escolas abandonadas e em ruínas, tornam-se depósitos onde se comete toda sorte de crimes. Todavia, pode ser diferente, e cabe a sociedade organizaada unir-se ao poder público, sem isenção de sua responsabilidade, para a prática de políticas públicas eficientes e plausíveis à disposição da resolução, a médio e longo prazo, desse grave problema. Corrente deu o exemplo de como transformar a realidade exposta na frase do Mestre Darcy Ribeiro, mas é preciso ir muito mais além. Não basta somente construir escolas mas , e principalmente, mantê-las funcionando com a qualidade esperada.
Parabéns pelo artigo Boaz, nos remete a um problema cuja solução e condição sine qua non para o desenvolvimento de qualquer povo.